A Pedra Bruta de Astúrias: a Maçonaria no século XXI entre o passado perseguido e o presente plural

Longe dos mitos de conspirações globais que durante séculos lhes foram atribuídos, os maçons das Astúrias reúnem-se hoje em dia para debater ética e filosofia, num exercício de reflexão coletiva mais próximo de um workshop de pensamento do que de uma sociedade secreta. De acordo com o historiador Yván Pozuelo, especialista no tema, a comunidade maçônica ativa na região não ultrapassa os 35 membros, distribuídos por seis Lojas entre Gijón e Oviedo. Esta irmandade, brutalmente perseguida pelo franquismo, que confiscou os seus arquivos e levou os seus membros ao exílio, à prisão ou ao fuzilamento, ressurgiu com a democracia como um espelho da própria sociedade: um mosaico plural de influências que vão desde a tradição mexicana à francesa, consoante os locais de exílio dos seus membros.
A paisagem maçônica asturiana é notavelmente diversa para um território de pequena dimensão, funcionando como um "menu degustação" da maçonaria contemporânea. Nele coexistem Lojas "regulares", como Jovellanos nº 138, exclusivamente masculinas e que exigem a crença num "Grande Arquitecto do Universo", com Lojas "liberais" ou "adogmáticas", como a Rosario de Acuña, que é mista e laica, aberta a crentes e não crentes. A esta pluralidade juntam-se a Loja feminina Estrella del Norte nº 5 e outras oficinas de carácter misto, como El Trabayu, que incorpora um perfil asturiano. Apesar de, por vezes, partilharem o mesmo edifício, cada uma mantém a sua identidade e autonomia, num convívio geralmente respeitoso.
No seu cerne, a Maçonaria atual define-se como uma escola de cidadania e reflexão ética, onde o objetivo é "polir a pedra bruta" de cada um através do diálogo e do pensamento crítico. "Entramos para melhorarmos a nós mesmos, e entendemos que, ao melhorarmos nós, melhoramos o mundo que nos rodeia", explica Faustino Zapico, membro da Loja El Trabayu. Longe de serem uma elite poderosa, os membros são descritos como pessoas de classe média ou trabalhadora, com inquietação intelectual. Num tempo de ruído e polarização, estas Lojas procuram ser um refúgio de serenidade e razão, onde o único "segredo" que se guarda é a discrição para proteger a privacidade daqueles que, devido a preconceitos persistentes, preferem não se revelar publicamente.

