(1813) 🇬🇧 União dos "Antigos" e "Modernos"

A União de 1813 na Maçonaria representou um dos eventos mais significativos e reconciliatórios da sua história, marcando o fim de mais de seis décadas de um cisma profundo dentro da Maçonaria inglesa. Esta divisão remontava à meados do século XVIII, quando a Maçonaria se encontrava dividida em duas correntes principais e antagónicas. De um lado, estavam os "Modernos", a Grande Loja de Londres e Westminster, fundada em 1717, que era a obediência original. Eles haviam introduzido uma série de alterações nos rituais, suavizando alguns aspetos e reduzindo as referências explicitamente cristãs, com o objetivo de criar uma fraternidade mais universalista. Do outro lado, estavam os "Antigos", uma Grande Loja rival formada por volta de 1751, principalmente por maçons irlandeses liderados por Laurence Dermott. Estes autodenominavam-se "Antigos" por alegarem praticar a Maçonaria de uma forma mais pura e antiga, acusando os "Modernos" de terem corrompido os rituais originais. Os "Antigos" mantinham fortes elementos cristãos, como orações nas sessões, e davam uma importância fundamental ao Arco Real, que consideravam a pedra angular e a conclusão indispensável do terceiro grau de Mestre Maçom.
Durante décadas, as duas Grandes Lojas coexistiram em rivalidade, competindo por influência e membros, com os "Antigos" a gozarem de uma popularidade crescente, especialmente na América. No entanto, o inÃcio do século XIX trouxe consigo um clima de mudança. As Guerras Napoleónicas criaram um sentimento de unidade nacional em Inglaterra, tornando a divisão maçónica um anacronismo incómodo. Além disso, a existência de duas potências maçónicas em Inglaterra era um problema para as lojas no estrangeiro, que não sabiam com qual delas se relacionar. A vontade de união entre os próprios maçons crescia, cansados de uma divisão que contradizia os princÃpios de fraternidade que professavam.
O momento decisivo chegou em 1813, com a ascensão de dois irmãos da realeza britânica ao topo de cada Grande Loja: o Duque de Sussex tornou-se Grão-Mestre dos "Modernos" e o seu irmão, o Duque de Kent, assumiu a liderança dos "Antigos". Movidos por um espÃrito de conciliação familiar e pelo bem da Ordem, os dois irmãos trabalharam em conjunto para forjar um acordo histórico. No dia 27 de Dezembro de 1813, as duas Grandes Lojas fundiram-se solenemente, dando origem à Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE), com o Duque de Sussex como o seu primeiro Grão-Mestre.
Esta união não foi meramente administrativa, mas sim uma profunda reconciliação doutrinária. Para unificar os rituais, foi criada uma "Loja de Reconciliação" que sintetizou as práticas de ambos os lados, resultando num ritual único que incorporou elementos das duas tradições. De forma crucial, a nova Grande Loja reconheceu oficialmente a Ordem do Arco Real como um complemento essencial aos três graus simbólicos, uma concessão fundamental aos "Antigos". Os "Artigos de União" e as "Leis de Reconciliação" reafirmaram a lealdade aos "Antigos Landmarks, Costumes e Usos da Ordem", enquanto mantiveram o princÃpio dos "Modernos" de que a Maçonaria é aberta a todos os homens que acreditam num Ser Supremo, sem ser uma instituição dogmaticamente cristã.
O legado da União de 1813 é imensurável. Ela pôs fim a um cisma debilitante, criou a que é hoje uma das mais influentes potências maçónicas do mundo e estabeleceu um padrão ritualÃstico e organizacional que se difundiu globalmente. Foi, no fundo, uma demonstração prática de que os ideais de tolerância, compromisso e fraternidade podiam superar mesmo as divisões mais profundas, solidificando os alicerces da Maçonaria moderna tal como a conhecemos.

