(1751) 🇬🇧 Ahiman Rezon

16/03/1751

O "Ahiman Rezon": A Constituição dos Maçons "Antigos"

O "Ahiman Rezon", ou "O Livro das Constituições" desta Grande Loja, foi uma obra fundamental escrita por Laurence Dermott para a Grande Loja dos Antigos da Inglaterra, formada em 1751. Esta Grande Loja surgiu para unir maçons e Lojas que, acreditando fazer parte de uma tradição maçônica mais antiga e original, haviam escolhido não se aliar à primeira Grande Loja de 1717, conhecida como os "Modernos".

O Significado do Título: Um Enigma Hebraico

O título "Ahiman Rezon" é geralmente aceite como sendo de origem hebraica, embora a sua tradução exata seja um tema de debate e especulação. Várias interpretações foram propostas ao longo dos anos, como "ajudar um irmão", "vontade dos irmãos escolhidos" ou "segredos dos irmãos preparados".

No entanto, uma análise mais aprofundada sugere uma origem diferente. As palavras "Ahiman" e "Rezon" parecem referir-se a duas figuras bíblicas distintas:

  • Ahiman é mencionado no Livro das Crónicas como um dos porteiros levitas designados pelo Rei David para guardar o Santuário interior do Tabernáculo.

  • Rezon é descrito no Livro dos Reis como um príncipe renegado que se tornou rei da Síria e um rival constante do Rei Salomão.

Os estudiosos especulam que Dermott usou estes nomes de forma alegórica para descrever a luta entre as duas correntes maçónicas:

  • Os "Antigos" viam-se a si próprios como Ahiman, os guardiões fiéis do santuário da Maçonaria "pura" e tradicional.

  • Eles viam os "Modernos" como Rezon, uma facção rival que, tal como o Rezon bíblico que se opunha a Salomão, desafiava a tradição estabelecida.

Esta interpretação reforça a perceção dos Antigos como defensores de um ritualismo mais antigo e autêntico, em oposição às inovações e padronizações introduzidas pelos Modernos, que consideravam demasiado secularizadas.

História e Conteúdo da Obra

A primeira edição do Ahiman Rezon foi publicada em 1756. A obra de Dermott não era um simples livro de regras; era também uma peça política e satírica. Ele parodiou abertamente as histórias da Maçonaria escritas pelos Modernos, como as Constituições de Anderson.

Numa passagem famosa, Dermott escreve que resolveu escrever a sua história comprando todas as histórias anteriores e atirando-as "para debaixo da mesa", narrando depois um encontro fictício com quatro "viajantes de Jerusalém" que teriam estado presentes na construção do Templo de Salomão. Este tom mordaz continuava a tradição de críticas jocosas que os "Antigos" dirigiam aos "Modernos".

O seu objetivo era claro: reconectar a Maçonaria às suas raízes operativas e artesanais, posicionando os "Antigos" como os verdadeiros herdeiros da tradição.

O Legado Duradouro

O Ahiman Rezon tornou-se a constituição definidora da Grande Loja dos Antigos. Quando os "Antigos" e "Modernos" se uniram em 1813 para formar a Grande Loja Unida da Inglaterra, oito edições da obra já tinham sido publicadas.

O seu legado mais notável persiste nos Estados Unidos. As Grandes Lojas da Pensilvânia e da Carolina do Sul são as únicas jurisdições que continuam a chamar às suas constituições de "Ahiman Rezon". A edição da Pensilvânia, preparada em 1781 pelo Rev. William Smith, era essencialmente uma reimpressão do trabalho de Dermott e foi dedicada a ninguém menos que o Irmão George Washington.

Excerto da Carga I: Sobre Deus e Religião

A seguir, apresenta-se um excemplo do conteúdo doutrinal do Ahiman Rezon, na sua edição de 1764, que ilustra a sua perspectiva sobre teologia:

"CARGE I.

Acerca de DEUS e da Religião

Um MAÇOM é obrigado, pela sua condição, a observar a lei moral como um verdadeiro Noaquida*; e se compreender corretamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso, nem agirá contra a consciência.

Nos tempos antigos, os maçons cristãos eram encarregados de cumprir os usos cristãos de cada país por onde viajavam ou trabalhavam; sendo encontrados em todas as nações, mesmo dentre diversas religiões.

Estão geralmente encarregados de aderir àquela religião na qual todos os homens concordam (deixando cada irmão à sua própria opinião particular); isto é, serem bons homens e verdadeiros, homens de honra e honestidade, seja quais forem os nomes, religiões ou persuasões pelos quais se distingam; pois todos concordam nos três grandes artigos de Noé, suficientes para preservar o cimento da loja.

Assim, a maçonaria é o centro da sua união, e o meio feliz de conciliar pessoas que, de outra forma, teriam permanecido a uma distância perpétua.

*Filhos de Noé, o primeiro nome dos Franco-Maçons."